terça-feira, 24 de julho de 2012

Entrevista: Leonel Caldela


E eis que eu finalmente consegui fazer mais uma entrevista aqui no blog, caramba eu gosto tanto delas, mas infelizmente é complicado conseguir entrevista com algum autor que já tenha dado as caras por aqui, já que eu também ando lendo em ritmo de lesma.


O entrevistado de hoje é Leonel Caldela, que escreveu a trilogia Tormenta e também O Caçador de Apóstolos e O Deus Máquina.






Terra das Fábulas: Quando foi que você se interessou por ler e escrever?
Leonel Caldela: Cresci numa casa com muitos, muitos livros. Meus pais sempre leram e me incentivaram a ler. Assim, a leitura veio naturalmente. HQs também foram muito importantes para isso, eu acompanhava super-heróis mesmo antes de saber ler. Acho que o interesse pela escrita veio disso, de estar cercado por esse ambiente. Não me lembro de uma época em que eu não desejasse escrever ou desenhar. Contudo, não sou um desenhista de nível nem perto do profissional, então acabei só na escrita mesmo.



TF: Você joga RPG certo? Como foi que você conheceu o jogo?
LC: Jogo quase fanaticamente! RPG é um dos meus lazeres favoritos, pra mim não há hobby que se compare. Meu primeiro contato com o mundo do RPG foi com uns 9 ou 10 anos, através de livros-jogos baseados em D&D (o RPG mais famoso do mundo) em português de Portugal. Fiquei só nisso alguns anos. Depois, no início da adolescência, um amigo ouviu falar de RPG e nos metemos a criar o nosso próprio, mas não entendíamos direito o conceito. Acabou saindo uma espécie de jogo de tabuleiro... Meses mais tarde, este mesmo amigo conheceu GURPS (um sistema de RPG muito famoso no início dos anos 90) e enfim começamos a jogar. O grupo se desfez, mas eu continuei com o hábito, achando outros grupos. 


TF: A título de curiosidade, qual é o seu sistema favorito? E tem algum cenário/estilo/gênero predileto?
LC: Meu sistema favorito é o SAGA de Dragonlance Fifth Age, um RPG baseado em cartas (não dados) publicado nos anos 90. Era muito interpretativo, e mestrei vários anos usando-o. Meu cenário favorito já foi Dragonlance mesmo, mas hoje em dia é difícil dizer um favorito absoluto. Dragonlance compete com Tormenta, Pendragon, Cthulhu e outros na minha preferência. Gosto mais do estilo fantasia medieval puxando para o "realismo" (não muita magia, combates bem fatais, etc.). Um pouco de terror também me agrada. 


TF: Tem algum estilo literário favorito? (Porque?)
LC: Isso eu definitivamente não tenho. Acho difícil achar um estilo literário que não ofereça algo de muito interessante. Gosto de ficção urbana contemporânea (passando pelo policial, drama, etc.), fantasia, ficção histórica e ultimamente até ficção científica - um gênero com que eu nunca tivera muito contato. Leio pouca não-ficção, é verdade, mas isso não é por não gostar. É falta de tempo mesmo.


TF: Tem algum escritor favorito? (Porque?)
LC: Meus favoritos no momento são Rubem Fonseca e Neal Stephenson. O Rubem Fonseca por causa da narrativa ágil, do estilo seco, das cenas tensas e dos personagens fascinantes. O Stephenson por causa das ideias monumentais, do didatismo sem ser chato, dos mundos que ele cria. Neal Stephenson é capaz de começar um livro com uma verdadeira aula de matemática, ou de inserir teoria econômica no meio da narrativa, e continuar prendendo o leitor.


TF: De quem foi a ideia de escrever um romance baseado no cenário de Tormenta?
LC: A ideia inicial, antes mesmo de eu estar envolvido, acho que foi do Marcelo Cassaro. Mas os três criadores do cenário (Cassaro, J.M. Trevisan e Rogerio Saladino) tinham essa intenção há tempos. Por uma razão ou outra, eles não faziam isso por si mesmos - a falta de tempo absoluta, conduzindo uma revista mensal e um cenário de RPG, era o maior fator que impedia. Eles então conheceram meu trabalho através de um conto e me convidaram para escrever o romance. Foi o Cassaro que disse "Romance? Por que não fazer logo uma trilogia?". 


TF: Como foi que veio a “inspiração” para escrever o caçador de apóstolos?
LC: As primeiras ideias para o livro vieram quando eu lia o mangá "Blade of the Immortal". Em uma determinada passagem, uma personagem precisava atravessar um rio num trecho controlado por um exército (ou algo assim, não lembro de todos os detalhes). O autor levou a trama numa certa direção, e eu comecei a pensar no que aconteceria se o rumo da história fosse outro. Então comecei a imaginar quem seria essa personagem, qual seria o exército, por que haveria guerra, etc. Quando me dei conta, havia o esboço de um mundo medieval e uma narrativa passada nele. Só podia virar livro. Curiosamente, a cena que eu comecei imaginando foi descartada na metade do processo, e nunca chegou ao romance!


TF: Você possui alguma técnica para se “inspirar”?
LC: Gostei de tu ter botado "inspirar" entre aspas, porque realmente não é um termo muito exato para o processo criativo. :) Em geral, eu gosto de estudar o tema em questão, principalmente relacionando-o com o mundo atual. Por exemplo, em Deus Máquina surge um "culto", uma espécie de seita que condiciona seus membros. Eu pesquisei sobre cultos no mundo real para desenvolvê-lo. Isso vale também quando ainda não sei sobre o que quero escrever a seguir. Gosto de ler sobre temas variados que atraiam a minha atenção, mesmo que não haja um propósito definido. Invariavelmente, isso acaba dando origem a alguma história. Fora isso, observar as pessoas e acontecimentos ao redor é fundamental para começar o processo criativo.


TF: Me de uma opinião de escritor, oque um livro precisa ter para ser considerado bom pra você?
LC: Para o meu gosto específico, o livro precisa ter ação (não necessariamente ação física, mas acontecimentos que movam a história adiante com fluidez) e personagens com motivações realistas e personalidades cativantes. É difícil definir o que é uma "personalidade cativante", mas pra mim ter personagens que conversam entre si, fazem coisas não relacionadas à trama e têm gostos e manias como pessoas reais ajuda bastante. Também gosto de plausibilidade. Se estamos em uma história de fantasia, não é preciso realismo. Mas se eu noto que o autor claramente está tentando emular algo do mundo real, precisa haver pelo menos uma razão para quaisquer coisas que sejam diferentes, uma lógica interna. A narrativa também precisa ser ágil, sem vícios de linguagem, sem rimas internas, sem aliterações fora de lugar, etc. Um livro usa a linguagem como ferramenta - se o autor não souber usar a linguagem, o livro vai sofrer muito, por melhor que seja a história.


TF: Aproveitando também, oque uma história precisa ter para conquista-lo como leitor? Ou melhor, como fã.
LC: Acho que já respondi ali em cima. Não consigo pensar em nada a acrescentar. 


TF: Quando se é escritor, é comum passar por diversas dificuldades como em qualquer profissão, na sua opinião, qual foi o maior perrengue que você já teve de enfrentar na carreira?
LC: Meu primeiro livro, "O inimigo do mundo", deveria sair por uma editora de São Paulo. Com o livro já escrito e até diagramado, pronto para ir para a gráfica, começou a haver "problemas" com a editora. Ela não pagava colaboradores. Escondia direitos autorais. Enfim, práticas bem duvidosas, para dizer o mínimo. Eu não sabia de toda a extensão disso. Mas então, quando estava tudo pronto para o livro ser publicado (ou assim achávamos), a editora decidiu largar a linha Tormenta - e, junto com ela, o romance. Eu cheguei a ir a um evento em Belo Horizonte para lançar o livro, só para chegar lá e descobrir que não haveria livro algum. Foram então quase dois anos até "O inimigo do mundo" ser finalmente publicado - dessa vez pela Jambô, uma editora muito competente e honesta, ótima casa. 


TF: Fiquei sabendo que você já está trabalhando em um novo projeto, e ai, como andam as coisas? Pode dizer pra gente, nem que seja por cima, do que se trata?
LC: Esta pergunta tem vindo bastante... Mas não posso falar quase nada. É um novo romance, em um novo cenário, criado por mim. Fantasia, mas tem como pano de fundo o mundo real. Unstoques de terror. Mais do que isso, não dá. :) 


TF: Oque você acha do cenário brasileiro de literatura? E do cenário estrangeiro?
LC: A literatura está muito aquecida no Brasil, não sei se houve um momento tão favorável nos últimos anos. Estamos vendo um "boom" de literatura de entretenimento, com vários novos autores despontando e fazendo sucesso. Mesmo no lado mais "acadêmico" estão surgindo vários nomes de qualidade. Acho que é um ótimo momento para escrever, e imagino que este cenário vá se consolidar cada vez mais. Quanto ao cenário estrangeiro... Para nós tudo sempre parece um paraíso lá fora, não? Temos a impressão de que as pessoas leem mais, têm mais acesso a livros... Não sei opinar sobre o cenário literário como um todo, mas me parece que pelo menos a ficção especulativa (fantasia, ficção científica, etc.) está em alta.


TF: Oque acha das adaptações de livros feitas para o cinema?
LC:  Algumas conseguem ser até melhores (ou pelo menos mais acessíveis) que as obras originais. Tolkien era um gênio, e seria impossível transpor toda a riqueza da Terra-Média em três filmes... Mas a trilogia do cinema baseada em sua obra é mais ágil e "amigável" do que os livros. Já os filmes de Harry Potter para mim sempre serviram como "ilustrações" dos livros. São a representação visual do que está na página - mas, para conhecer mesmo a história e os personagens, é preciso ler. Em geral, uma daptação cinematográfica é benéfica, pelo menos para deixar as pessoas com vontade de conhecer o original. Não vejo como possa prejudicar.


TF: Para concluir a rápida entrevista, tem algum recado pra deixar pro pessoal que lê o blog?
LC: Obrigado pelo interesse e fiquem no aguardo para o próximo livro! Assim que eu puder revelar algo, vocês serão os primeiros a saber!


[...]


E é isso ai galera, encerro por hoje mais uma entrevista, curti muito. Confesso que estou super ansiosa para saber oque é que esse cara anda aprontando... Vou ficar de olho para dar notícias.


E por hoje é só gente, perdoem os posts em velocidade de lesma, e principalmente a minha escrita que tem caído em qualidade significativamente, ou talvez seja apenas uma impressão minha, ou pior, eu sempre escrevi mal e só agora tenho percebido isso... Melhor não pensar muito nisso e me dedicar mais.


Até mais gente!

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